Épico de marshe.ban apresenta um caos simpático
Pandemia - Episódio 2
Crítica por kiko@bom
O cenário de Pandemia é contraditório a si mesmo. Declarando-se um filme caótico apresenta, contudo, uma trama sarcástica (quase humorosa) na medida que o caos que o diretor, e também roteirista, descreve é abnóxio. Não há espaço para destruição em massa, nem terror epidêmico no cinema de marshe.ban e as poucas ocasiões em que o público se depara com cenários que podem gerar balbúrdia, o roteiro fecha-se e corta-se num tom flutuante. Num vácuo de ideias.
Depois do primeiro episódio de Pandemia ser um sucesso de bilheteira relativamente aos restantes filmes e séries da Pixel Movies, foi a decisão (lógica) de marshe.ban prosseguir a história, que além de inovadora — embora aproveite muito dos estilos clássicos —, era inteligente. Num cinema habbiano com cada vez menos inovação e mais produção, é um alívio sentir um roteiro fresco, livre de mariquices desnecessárias e com uma ideia central clara. E mesmo que o primeiro episódio tenha tido vários problemas na condução das ideias numa linha de trama consensual, marshe.ban conseguiu modificar vários comportamentos característicos do próprio roteiro, que, de tão cheio de parcialidades, tiravam o brio à história.
Desta vez é claro: um vírus perigosíssimo está à solta e o mundo começa a caminhar para um cenário apocalíptico. Um estudante de faculdade, Eddie, é contactado por um homem misterioso, Cesar, que lhe fala dessa mesma tragédia e das ligações do seu pai com o sucedido. E é então que marshe.ban evoca os épicos do cinema habbiano para Pandemia — o protagonista deixa de ser um simples jovem (Lucas, Guilherme, Hugo, Martan) e tornar-se um cruzado na procura do resgate da humanidade. Deixa tudo para trás e avança com Cesar para uma cidade de grande potencial industrial, extremamente povoada, para onde o vírus irá viajar; "Que se dane a faculdade, o mundo tem uma coisa mais importante para se preocupar".
E graças a essa procura o primeiro ato do episódio é extremamente problemático. Além de tirar totalmente a importância ao acontecimento como catástrofe, dá a Eddie um ar heróico redundante.
Não obstante, marshe.ban resolve esse problema fazendo o que não fazia há um episódio e meio: inicia o desenvolvimento e a caracterização psicológica dos personagens principais. Há um choque de opiniões entre Eddie e Cesar, entre o necessário e o justo, que finalmente dá uma justificação à existência dos personagens. Se não, entre isso e um texto de quatrocentas palavras num fundo preto, a diferença seria mínima.
E esse cinema simples que marshe.ban entrega, sem um mundo exuberante, sem uma pandemia visual, traduz-se numa fotografia e arte simples que, embora não prejudiquem o filme, também não elevam o nível da imagem, até porque marshe.ban não é, definitivamente, um realizador de espetáculo pirotécnico; não é um criador de sonhos. E como ele próprio entende isso não abusa e guia a linha de trama para cenários indiferentes e que não requerem um nível de edição extrema. E isso só demonstra que, embora a história não apresente de facto uma pandemia, o diretor entende como quer guiar a sua história e entende as suas dificuldades, contorna-as e usa os recursos que tem para entregar o que pode.
Usa e abusa de planos médios e fechados e raramente os abre para revelar o que está à volta ou o que rodeia os personagens — porque isso não é preciso; só os personagens contam e a sua corrida contra o tempo face a uma catástrofe com escala mundial. O resto são só pieguices desnecessárias e enquanto marshe.ban não quiser mostrar a ruína do vírus não vale a pena. E, felizmente para ele, não é de cinema espetáculo que precisamos.
É, portanto, um caos simpático. Não o vemos, mas ele está lá numa orgia de razões e rabiscos inacabados e sentimos o cenário de pandemia. E, por mais absurdo, acreditamos, porque nunca o vimos, e esperamos não ver.
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| Ótimo |


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